Sherlock Holmes: The Devil's Daughter

Os jogos da saga Sherlock Holmes têm alcançado sucesso relativo ao longo dos anos, graças a uma melhoria progressiva de capítulo para capítulo. Sherlock Holmes: The Devil's Daughter segue o mesmo trajeto, melhorando vários aspetos do antecessor, Sherlock Holmes: Crimes & Punishments, e mantendo a mesma qualidade na narrativa, no argumento e nos mistérios.

Existem várias diferenças entre o novo jogo e os anteriores, e a mais óbvia é técnica. Este foi o primeiro projeto da saga produzido de raiz para PC, PS4 e Xbox One, o que significa que não foi limitado pelas consolas mais antigas. Os modelos das personagens não são impressionantes, mas o cenário está recheado de pormenores e a atmosfera de Londres é fantástica. O jogo tem um ambiente soberbo, enriquecido por uma iluminação muito superior ao que vimos em Crimes & Punishments. As áreas de jogo também foram aumentadas, permitindo ao jogador explorar mais à vontade os ambientes. The Devil's Daughter não é um jogo em mundo aberto, mas as áreas permitem explorar vários edifícios, e até participar em algumas sequências de maior ação, como perseguições.

Embora exista uma melhoria técnica, Sherlock Holmes: The Devil's Daughter não é uma grande produção, e isso é evidente em alguns pormenores. Como já referimos, os modelos das personagens não têm o detalhe de jogos "AAA", e a jogabilidade apresenta uma certa dureza de animações e de controlos. Tudo funciona bem, e o jogo consegue oferecer uma experiência sólida, mas não vai além disso. Ao nível de animações e de transição entre ações da jogabilidade, Sherlock Holmes: The Devil's Daughter está mais ao nível do que se fazia há cinco ou seis anos, mas não sofre de bugs graves. Estes problemas são evidentes, mas a experiência mantém-se sólida durante as várias mecânicas de jogo que vão explorar.

Outra grande diferença de The Devil's Daughter não chega tanto ao nível técnico, mas de design. Em vez de introduzir um enorme caso de princípio ao fim, para este jogo a Frogwares decidiu dividir a aventura em cinco casos independentes para os jogadores explorarem. Existe um arco narrativo geral, e ligações entre todos os casos, mas são independentes o suficiente para serem apreciados de forma isolada. Podem perfeitamente acabar um ou dois casos, e depois voltar semanas mais tardes para continuarem, se quiserem descansar um pouco do jogo.

Como podem adivinhar, Sherlock Holmes: The Devil's Daughter é um jogo de investigação, exploração e mistério. Muitas das mecânicas dos jogos anteriores estão presentes, e o jogo acaba por oferecer uma boa variedade de tarefas durante os casos. Numa primeira fase devem investigar o sucedido, analisando e interrogando vítimas, testemunhas ou suspeitos. Quando conhecem uma personagem nova relevante, o tempo pára e podem olhar atentamente para vários pormenores dessa personagem. Algumas deduções são óbvias e automáticas, outras devem ser determinadas pelo jogador. Por exemplo, uma personagem tem os olhos vermelhos: será por motivos de doença ou porque esteve a chorar?

O processo de investigação pede que vasculhem áreas à procura de pistas. Algumas são fáceis de encontrar, outras só estão disponíveis se usarem a "visão de detective", que realça itens difíceis de encontrar (porque estão enterrados num monte de papéis ou porque estão num bolso de um casaco, por exemplo). Normalmente este processo é bastante linear, e o jogador faz pouco mais do que deixar guiar-se pelo jogo. Existe um nível de dificuldade mais elevado, que dificulta a investigação do jogador, mas só será aconselhado para os jogadores mais exigentes.

Conforme vão recolhendo pistas e provas, podem tentar ligar factos e determinar deduções. Isto terá impacto na resolução do caso, e podem chegar ao ponto de acusarem alguém completamente inocente. Os casos raramente são exatamente o que parecem, e o melhor conselho que vos podemos dar é evitarem conclusões precipitadas.

Gostámos que a Frogwares tenha tentado dar maior ritmo ao jogo através de sequências de maior ação ou com uma interação fora do comum. Utilizando o primeiro caso como exemplo, tivemos de perseguir um indivíduo pelas ruas de Londres - numa sequência que nos lembrou de Assassin's Creed -, assumimos o controlo de um cão que tentou seguir o cheiro de um objeto, e participámos numa fuga no meio de um pântano. A Frogwares sabe que um jogo de 15 a 20 horas composto apenas por investigação e dedução pode torna-se demasiado repetitivo e cansativo, e estas sequência mais interativas oferecem outra vida ao jogo. Esse problema não foi totalmente resolvido, porque os ecrãs de loading duram vários segundos e surgem com elevada frequência. Isto quebra claramente o ritmo do jogo, mesmo que a Frogwares tenha tentado redimir a situação. Nas opções podem determinar se os ecrãs de loading devem recorrer numa carruagem, onde podem rever detalhes do caso, ou se deve atravessar um ecrã de loading tradicional. A segunda escolha não oferece interação mas é mais veloz. Cabe ao jogador decidir qual a melhor opção para si.

Sherlock Holmes: The Devil's Daughter é um jogo que nos divide. Por um lado existe uma clara ausência de qualidade técnica. Não ao ponto de ser mau, porque não é, mas suficiente para estar desatualizado em relação ao que nos habituamos recentemente. Por outro lado a experiência é sempre sólida, e em termos do que realmente interessa para o jogo - o argumento, a narrativa, as mecânicas de investigação -, Sherlock Holmes: The Devil's Daughter cumpre as suas promessas. Não é para todo o tipo de jogadores, mas se são fãs da série ou se apreciam o género policial ou de aventura, é uma opção a considerar.