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The Last Guardian

The Last Guardian

Um sucessor digno para Ico e Shadow of the Colossus?

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A pergunta mais frequente em relação a The Last Guardian passa por perceber se valeu a pena todos estes anos de espera. Como é óbvio, não, não valeu a pena a espera. The Last Guardian não é o melhor jogo de todos os tempos, ou uma obra prima capaz de quebrar moldes e barreiras. Se era esse o tipo de expetativas irrealistas que tinham para The Last Guardian, vão ser defraudadas. Em vez disso, The Last Guardian oferece é um bom jogo, uma experiência especial que merece ser vivida apesar de algumas falhas.

Este exclusivo PS4 foi produzido pela Team Ico e criado pela mente do genial Fumito Ueda, a mesma equipa que nos trouxe Ico e Shadow of the Colossus. E isso é evidente ao longo de todo o jogo. Aliás, The Last Guardian parece estar quase encaixado num conceito entre esses os dois jogos. À semelhança de Ico vão explorar uma enorme estrutura com inspiração medieval e alguns toques de tecnologia bizarra, tudo enquanto atravessam puzzles e secções de plataformas ao controlo de um rapaz. A grande diferença é que, em vez da rapariga de Ico, desta vez serão acompanhados por Trico, uma enorme criatura que podia ter sido um dos colossos de Shadow of the Colossus.

Trico é a grande estrela de The Last Guardian, e possivelmente o maior motivo para os sucessivos atrasos no lançamento do jogo. Esta é facilmente a criatura mais viva que vimos num jogo, ao ponto de ser quase assustador. O comportamento brilhante da inteligência artificial é acompanhado por inúmeros pormenores de grande qualidade, que ajudam a formar a credibilidade da criatura. As animações, os tiques com as orelhas, a forma como brinca com barris e objetos, o ar intrigado com que olha para o rapaz, e os inúmeros sons que produz em vários contextos, são tudo elementos que ajudam a criar esta criatura fantástica.

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A credibilidade das animações e dos sons de Trico é impressionante, mas é o seu comportamento no jogo que ajuda a completar a ilusão de que estamos perante uma criatura viva. Os jogos raramente têm coragem de colocar personagens controladas pela inteligência artificial a acompanhar o jogador, e quando o fazem, normalmente assistimos a comportamentos bizarros, como momentos em que ficam presos no cenário, ou bloqueiam o caminho do jogador. Agora imaginem que essas personagens eram do tamanho de um prédio e tinham de saltar para inúmeras plataformas, interagir com objetos, e passar por passagens pequenas e estreitas. O facto do comportamento de Trico ser tão credível, sem causar este tipo de problemas comuns, é possivelmente o maior triunfo da Team Ico e de The Last Guardian.

O jogador nunca pode controlar diretamente Trico, mas podem sugerir-lhe alguns movimentos. O rapaz tem quatro ações que pode realizar - saltar, empurrar, agachar-se, e interagir com objetos -, executadas com os botões frontais do comando. Se pressionarem no R1 (chama Trico) e num dos botões frontais, vão sugerir a Trico que execute a mesma ação, seja saltar ou interagir. Existem puzzles que requerem estas ações, e o jogo não deixa muito claro que podem fazer estas sugestões, por isso lembrem-se delas.

Criar uma personagem de inteligência artificial com um comportamento tão credível, que segue o jogador, enfrenta adversários, e interage com objetos que nem sempre estão fixos, deve ter sido um dos principais fatores para a demora na produção do jogo. Talvez seja por isso que nunca vimos uma personagem de IA comportar-se de forma tão realista, e é por isso que dificilmente vamos voltar a ver algo deste género tão cedo - porque simplesmente não vale a pena o esforço. Por muito fantástico que Trico seja, isso tem pouco impacto na qualidade de jogo. Se a jogabilidade não for interessante ou variada, se o design dos níveis não for bom, e o contexto relevante, as ações de uma personagem controlada pela inteligência artificial não serão relevantes.

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The Last Guardian, felizmente, não é um mau jogo. A jogabilidade, o design, e o contexto são bons e interessantes - mas não mais que isso. Embora a estória e a ligação entre o rapaz e Trico seja algo de muito especial, o jogo em si não é assim tão memorável, salvo alguns momentos em que o jogador nem sequer está a controlar a personagem. É uma experiência extremamente linear, que vão seguir através do percurso definido pelos produtores, e com pouco contexto inicial. E como não existe qualquer tipo de ajuda (plataformas que brilham ou setas a indicar o caminho), podem encontrar alguns momentos frustrantes. O design é normalmente bom o suficiente para sugerir o que fazer a seguir sem recorrer a esse tipo de truques baratos, mas existem momentos em que o jogo poderia ter sido um pouco mais óbvio.

O jogo arranca com o rapaz acordar e a encontrar Trico, uma enorme e estranha criatura presa e ferida. Depois do ajudar, ambos ganham uma ligação e começam a agir conjunto para escaparem desta estrutura e deste vale. Só muito perto do final vão receber algum contexto em termos do que é Trico e a sua função, ou de onde veio o rapaz. Não existe (ou pelos menos não encontrámos) qualquer tipo de colecionável ou objeto extra que oferecesse contexto extra ao jogador, ou seja, terão de pesquisar online por teorias se quiserem aprofundar o vosso conhecimento pelo mundo de The Last Guardian. Em suma, todos os jogadores terão exatamente a mesma experiência com The Last Guardian, e sem qualquer motivação para repetir a aventura. Não existem extras, níveis de dificuldade, ou segredos, e o jogo em si dura entre cinco a sete horas de jogo.

A jogabilidade gira toda em torno de movimento, plataformas, e puzzles. Não existem armas, e nem sequer combate, já que Trico é o único que consegue derrotar os poucos inimigos que vão aparecer pelo caminho - o jogador só tem de se certificar que não é agarrado e levado. O único progresso das personagens é narrativo, já que ao nível da jogabilidade e de habilidades, The Last Guardian joga-se da mesma forma do primeiro ao último minuto. A única exceção é quando carregam um escudo que projeta luz, mas só o terão durante alguns momentos.

The Last Guardian nasceu como um jogo de PlayStation 3, e isso é evidente no grafismo. O modelo do rapaz e a arquitectura são claramente datados, mas isso não significa que o jogo tenha um mau aspeto. O estilo de arte muito peculiar da Team Ico é excelente, e a escala do jogo é de tirar o fôlego. Vão caminhar em barras de madeira minúsculas, enquanto olham para baixo e vêm muitos metros de profundidade com várias estruturas complexas. Ao contrário de muitos mundos de jogo, que parecem ter sido construídos para servir a jogabilidade, o mundo de The Last Guardian parece orgânico e credível. É como se o jogador e Trico se tivessem de adaptar ao mundo, e não ao contrário.

Uma palavra também para a excelente sonoplastia de The Last Guardian. Enquanto a banda sonora não é particularmente memorável, os efeitos sonoros são de topo. Os passos de Trico e do rapaz, o contacto com correntes e madeira, o som do vento e da água, a respiração de Trico, o desmoronar de pedras... tudo de conjuga num trabalho fantástico do departamento sonoro da Team Ico, e formam um pilar importante na criação da ilusão que é este mundo de The Last Guardian.

Apesar do longo e árduo processo de desenvolvimento do jogo, The Last Guardian não é um dos melhores jogos de todos os tempos como alguns desejariam. Nem sequer é o melhor jogo da Team Ico, título que ainda pertence a Shadow of the Colossus. É, contudo, um bom jogo. Um jogo e uma aventura especial o suficiente para ser experienciada. Por ser curto, e não incluir qualquer tipo de aliciante extra, The Last Guardian é o tipo de jogo que é facilmente recomendado em promoção. Se esperaram 10 anos pelo lançamento, certamente podem esperar mais algum tempo, e se então encontrarem The Last Guardian a preço atrativo, comprem-no e desfrutem desta aventura.

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08 Gamereactor Portugal
8 / 10
+
Trico é brilhante. Relação fantástica entre o rapaz e Trico. Alguns momentos memoráveis. Escala impressionante.
-
Não tem valor de repetição. Câmara atrapalha. Falta variedade. Por vezes mostra as origens na PS3. Alguns momentos frustrantes. Tutoriais intrusivos.
overall score
Esta é a média do GR para este jogo. Qual é a tua nota? A média é obtida através de todas as pontuações diferentes (repetidas não contam) da rede Gamereactor

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