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Devil's Third

Devil's Third

A primeira obra de Tomonobu Itagaki após Dead or Alive e Ninja Gaiden chega finalmente à Wii U com mais pontos fracos que fortes.

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A diversão que potencialmente conseguirão extrair de Devil's Third está de certa forma relacionada com o vosso gosto em filmes. Se são puristas e apenas têm tempo para as obras mais aclamadas pela crítica, podem desde já seguir caminho. Mas se, como nós, são capazes de passar uma tarde a ver um filme de Stallone ou algo parecido só porque está a dar na TV, então podem considerar Devil's Third como uma espécie de equivalente em forma de videojogo a esse tipo de entretenimento.

Antes de mais, é inegável que este primeiro jogo da Valhalla Game Studios é feio. É baseado em mecânicas datadas e não merece o seu lugar na geração atual. Contudo, apesar de todo o ódio que irá receber, temos de admitir que o jogo tem algum apelo. Talvez isso se deva à personagem principal, um tipo durão e sem regras que, felizmente, é agora uma espécie em vias de extinção. Parece ser o tipo de jogo que não se leva a sério, ou então é de tal forma pretensioso que o resultado final acaba por ser em igual parte ridículo e divertido. Seja como for, vamos falar exatamente sobre o que é Devil's Third.

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Esta é a primeira obra de Tomonobu Itagaki, o criador de Dead or Alive, após ter abandonado a Tecmo e a Team Ninja em 2008. A THQ era originalmente a editora deste jogo para PlayStation 3 e Xbox 360, mas a empresa californiana caiu por terra antes que isso pudesse acontecer. O projeto ficou no limbo até a Nintendo achar que merecia uma segunda oportunidade. Isto pode explicar alguns dos problemas que Devil's Third revela, mas não justifica por completo o fraco estado do jogo.

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Neste, somos colocados a meio de uma guerra mundial após a queda de toda a rede de satélites que orbita o nosso planeta. Os EUA estão em crise, mas encontram uma solução: recrutar Ivan, um ex-mercenário russo que estava na prisão até à altura. Parece que os seus antigos camaradas foram responsáveis pela calamidade e agora cabe-lhe a ele resolver o problema. O enredo é tão promissor quanto possível para uma matiné de domingo, mas no fim acaba apenas por ser um pano de fundo que justifica as chuvas de balas, facas e explosões que decorrem em Devil's Third.

No que diz respeito à jogabilidade, é uma tentativa de misturar hack'n'slash com ação na primeira pessoa, mas não chega longe em nenhum dos géneros. Ivan tem uma katana para abrir caminho através das hordas de inimigos que encontra, muitos deles equipados até aos dentes. Por isso, e devido ao elevado número de soldados que surgem, muitas vezes a única solução plausível é escolher as armas de fogo e deixar as lâminas para as alturas em que sobrarem apenas um punhado de rivais.

O combate corpo a corpo parece ultrapassado, com um sistema que causa mais problemas do que aqueles que resolve. Usamos o mesmo botão para nos esquivarmos e bloquear, sendo que a única diferença é que temos de mover o analógico para o lado para efetuar a primeira ação. É um sistema inconveniente e muitas vezes o Ivan faz o oposto daquilo que lhe pedimos. O único ponto positivo é o grande número de armas à escolha e cada uma delas tem um movimento de finalização espetacular. E apesar do que Itagaki diz, jogar com o Wii U Pro Controller não melhora a experiência de todo.

Isto seria um problema menor se as mecânicas principais do jogo funcionassem de forma correta, mas isso também não acontece. O jogo decorre sempre na terceira pessoa, exceto quando começamos a disparar, e é aqui que Devil's Third mostra um dos seus lados mais negativos. O modo de primeira pessoa tem sérias falhas, com um sistema de mira rudimentar e armas sem "coice". Por exemplo, podemos manter o dedo apertado em torno do gatilho da metralhadora até esvaziar o carregador e a mira não sai minimamente afetada.

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Os problemas de Devil's Third são suficientes para compormos uma lista alongada. Existem sérias quebras de fluidez tanto nas sequências cinemáticas como durante o jogo e as texturas demoram a carregar. O sistema de cobertura, apesar de ser automático, também tem muitos problemas e deixa-nos a descoberto quando pensamos estar seguros. O design de níveis é unidirecional e na maior parte dos casos estamos limitados a caminhar por um corredor. Os bosses vão desde extremamente fáceis a terrivelmente injustos e também são vítimas de um ou outro erro técnico. E por fim, Devil's Third nem sequer consegue cumprir os requisitos mínimos de um jogo desta geração no que diz respeito à vertente técnica. Já vimos bem melhor na Wii U, como Mario Kart 8 e Bayonetta 2, por isso este é um fracasso que não pode ser remetido para a consola.

Não nos podemos esquecer do multijogador, um elemento que não conseguimos sequer testar por completo. É a segunda metade do jogo, com um arsenal de fatos, armas e objetos que podemos usar para modificar a nossa personagem antes de entrarmos em batalha. Existem muitos modos competitivos que podem acomodar até oito jogadores por equipa ou dezasseis a solo.

Tudo isto é complementado por um sistema de conversação que funciona bastante bem. É uma pena que todo este conteúdo acabe por ser manchado pelas microtransações. Sim, Devil's Third implementa ovos dourados como unidade monetária, um objeto que apenas pode ser obtido através de dinheiro real e cuja utilização faz a diferença. É frustrante - uma das piores práticas da indústria - e é o suficiente para baixar a pontuação do jogo.

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Por esta altura o veredicto parece claro, mas como dissemos no início, há algo de importante a apontar: nós divertimo-nos com Devil's Third. Talvez seja porque o jogo já tinha uma reputação negativa que nasceu na imprensa japonesa, que foi a primeira a experimentá-lo, e com Itagaki a enfrentar os jornalistas e a defender um título que parecia indefensável.

Talvez se deva também ao facto da narrativa não fazer qualquer sentido e da personagem principal estar ciente disso ao enfrentar um exército inteiro sozinho, de tronco nu e charuto na boca. Mas a verdade é que Devil's Third tem um certo charme se decidirmos ser pouco exigentes, ou seja, se aceitarmos os seus erros e não o levarmos muito a sério.

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05 Gamereactor Portugal
5 / 10
+
História e personagens divertidos (se não forem levados a sério), variedade das armas, multijogador sólido.
-
Imensos erros do lado técnico e da jogabilidade, multijogador baseado em microtransações.
overall score
Esta é a média do GR para este jogo. Qual é a tua nota? A média é obtida através de todas as pontuações diferentes (repetidas não contam) da rede Gamereactor

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